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    13 de Abr, 2021 | JPIC - Brasil

    Alimentação e “Bem viver”
    Descasque mais e desembale menos”

     

     

    Num planeta cujo “modus vivendi” se deteriora, é recorrente voltar-se ao estilo de vida dos povos nativos. Os povos nativos americanos, “possuem ideias extremamente refinadas sobre como conduzir a vida de maneira mais plena, em harmonia e balanço com os mundos aos quais pertencem”. Teko Porã (guarani) Sumak Kawsay (quéchua), Suma Qamaña (aimará) – termos intraduzíveis, significariam algo como "Bem Viver”, uma cosmovisão ancestral, de realização plena da vida no planeta. “O “bem viver” ético, existencial, coletivo, praticado e vivido no cotidiano. Com certeza, nossas sociedades civilizadas, presas à lógica do sistema capitalista concentrador de bens e de renda, com seus privilegiados e excluídos, ficam devendo, e muito, às experiências, conhecimentos, perspectivas e sabedoria dos povos nativos.

     

    Basta considerar o item Alimentação a partir dos três aspectos:

     

    1 . A produção - O que é produzido e como?  Felizmente, há um enorme esforço para investir na agricultura orgânica e produzir alimentos saudáveis, naturais, livres de pesticidas.

    Na produção em escala, o agronegócio faz a festa com largo uso de pesticidas. Segundo dados de 2018, o país usa cerca de 20% de agrotóxicos comercializados em todo o mundo. E cada brasileiro tem direito a 7 litros do veneno por ano na sua alimentação. Enquanto isso, as gigantes agroquímicas locupletam-se.

     

    2. Armazenagem e conservação – Como se faz o processamento?  Hoje, 85% dos alimentos consumidos no Brasil passam por algum processamento industrial, contra 70% em 1990 e apenas 56% em 1980. São técnicas de alterações via aditivos químicos ou não, para prolongar a validade. No processamento industrial está um nó da alimentação saudável.

    Basta ler a lista de “ingredientes” de um produto. Quanto mais ingredientes, maior o grau de processamento e menos saudáveis os alimentos.

     

    3. Distribuição - O que é distribuído e como? Na distribuição pesa o fator poder aquisitivo e a manipulação do padrão nutricional imposto pela mídia corporativa, segundo os interesses da indústria de alimentos. População, de baixa renda e desavisada, tende a colocar na mesa uma dieta compulsória pouco saudável, com alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes. Alimentos que “enchem a barriga” sem ser “comida de verdade”, na palavra do  Guia Alimentar para a População Brasileira.

     

    Não sem razão, o médico norte-americano Llaila O. Afrika, uma das autoridades mundiais em saúde e nutrição, criou a expressão “nutricídio” - sinônimo de genocídio alimentar, como fala no livro sobre a destruição nutricional da Raça Negra. De certa forma, há “destruição nutricional” da toda população que não tenha acesso à alimentação saudável. 

     

    No Brasil, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, criado em 22 de abril de 1993, assessorou, em década recente, um Projeto Federal de Combate à Fome, chegando a resultados memoráveis, revertidos nos últimos anos, infelizmente. 

     

    Em novembro de 2014, após amplo debate, foi aprovado, o Guia Alimentar de Alimentação saudável para a População Brasileira (Ministério da Saúde).  

    O Guia resgata conhecimentos importantes para as escolhas alimentares do povo brasileiro. Tem o propósito de oferecer à população informação sobre alimentação saudável e seus benefícios.

     

    O Guia Alimentar desmitifica o abuso midiático na publicidade de alimentos. Compreende-se que o setor privado - a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (BIA) fez oposição ao Guia, incomodada com a NOVA classificação que o Guia traz dos alimentos, baseada no grau de processamento industrial. No Ministério da Saúde atual, o setor continua fazendo críticas e pedindo a revisão do "Guia Alimentar para a População Brasileira", principalmente no que se refere ao consumo de alimentos ultraprocessados.

     

    Em dura resposta, especialistas lembram que órgãos internacionais, como a FAO, a OMS e o UNICEF, consideram o Guia Brasileiro, um exemplo a ser seguido. E os Ministérios da Saúde de vários países têm seus guias alimentares e suas políticas de alimentação e nutrição inspirados no Guia do Brasil. É o reconhecimento internacional do Guia.

     

    Para uma alimentação saudável, a dica é cozinhar em casa dando preferência a alimentos frescos, in natura. A regra de ouro é: “Descasque mais e desembale menos”.

     

    A nova classificação dos alimentos, conforme o Guia:

     

    -  In natura: Alimentos que vieram direto da natureza, como frutas, legumes e verduras. Se forem orgânicos, melhor.

     

    - Minimamente processados: Alimentos submetidos a alterações mínimas, como limpeza, seleção, secagem e embalagem, como frutas em pedaços e embalados, arroz, feijão, etc.

     

    - Processados: Produtos fabricados a partir do alimento natural, mas com a adição de sal ou açúcar, como conservas de frutas, carnes salgadas, queijos, .... Limitar o uso é de bom aviso,pois sofrem alterações nutricionais desfavoráveis.

     

    - Ultra processados: Produtos formulados pela indústria, com pouco ou nenhum ingrediente natural e adição de várias substâncias, aditivos químicos e alimentares. Basta ver a lista de “ingredientes”, aquelas letras pequenininhas, de um produto, difíceis de ler... Mais de 5 ingredientes, alimento é ultraprocessado. Na lista estão: biscoitos recheados ou não, salgadinhos, barrinhas de cereal, pratos prontos, refrigerantes, macarrão instantâneo e por aí vai — são um risco, uma cilada à saúde.

     

    A correria da vida convida a trocar alimentos in natura e minimamente processados, por alimentos industrializados prontos para o consumo (processados e ultra processados), em geral ricos em sódio, calorias, aditivos e praticamente sem nutrientes. Facilidade perigosa que é abrir as portas para doenças, expor-se a riscos de saúde.

     

    Proposta qualitativa, o Guia é parceiro no desafio da melhoria da qualidade da alimentação do povo brasileiro, com vistas à promoção da saúde e ao cuidado na prevenção de doenças crônicas ou não. O Guia, como instrumento a favor da saúde, faz sua parte na busca do “bem viver” para toda a população.

     

    O propósito desta reflexão é para sentir-nos desafiadas/os sobre a responsabilidade e importância de adotar hábitos de vida saudáveis em nossas comunidades, famílias, amigos/as ou em outros grupos sociais por meio do estímulo à adoção de rotinas de vida mais benéficas de alimentação e cuidados com o corpo/com a nossa saúde. Portanto, aliar a alimentação saudável ao “bem viver” discutindo novas formas de cuidado, pois a conscientização leva a resultados e compromisso com a “casa comum”. Assim, o “bem viver”, como um conceito herdado das cosmovisões indígenas e africanas, nos ajuda a pensar o coletivo/comunitário e a preservação da natureza, da qual somos parte. Fica o convite para nos somarmos cada vez mais à superação da lógica do capitalismo desenvolvimentista com seus efeitos de desigualdade que se sobrepõem à vida digna para todas as pessoas.

     

    Ir. Paula de São José Gobbi – São Paulo/SP

     

     

    Fontes:  Pesquisas na Internet e Guia Alimentar para a População Brasileira. Disponível em: Guia Alimenta para a população Brasileira

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