O amor é criativo!
Ao longo da Quaresma, o Conselho Geral, confinado entre as quatro paredes da Casa Geral em Roma, encontrou-se caminhando pelo deserto, marcado pelo silêncio, pela impaciência, curiosidade e fé, como o povo de Israel. Na caminhada, em meio à epidemia que logo se tornou uma pandemia, sentimos o quanto é duro nos deparar com a impotência, a incerteza, com a mudança repentina de planos e projetos pessoais e de comunidade.
A Pandemia, generalizada e global, que nos tomou de surpresa e foi ceifando muitas vidas, fez com que nós nos confrontássemos com nossas fragilidades, nossas paralisias e capacidade de sermos resilientes. Aquilo que, ao princípio parecia ser algo passageiro, mostrou sua arrogância e impiedade e foi tomando proporções inimagináveis, assegurando-nos que ficaria entre nós por algum tempo. Sua expansão foi tão rápida que em pouco tempo nos vimos todos navegando num mesmo barco e que um só horizonte se abria à nossa frente: o horizonte da fraternidade universal. Nos unimos a muitos momentos de oração dirigidos por Papa Francisco em união com toda a Igreja e diferentes credos no mundo inteiro, usando os meios tecnológicos. Mas, entre nós havia um certo desconforto, pois estávamos em segurança. Não expostas aos riscos de saúde e tínhamos acesso à satisfação de nossas necessidades básicas.
A Semana Santa com tudo o que ela comporta foi reavivando em nós a certeza de Deus, a partir de dentro de cada realidade, continua conduzindo a história. Deus, o Senhor da Vida é um Deus conosco e caminha junto com seu povo. Ele é nossa esperança. Assim, decidimos rezar com o povo e caminhar com o povo. Oferecemo-nos a preparar 25 refeições semanais para serem distribuídas aos pobres e pessoas impossibilitadas de sair de suas casas. Dedicamos às terças-feiras para cozinhar, preparar, embalar as refeições e alcança-las aos pobres. Cuidamos de nós mesmas e ajudamos aos outros a cuidarem de si. Pode parecer muito pouco, mas em tempo de Pandemia, também corremos o risco de sermos infectadas pelo vírus indo ao supermercado, enfrentando longas filas e esperas, entregando as refeições. Mas fazemos isso com muito amor e compromisso.
A Páscoa, deste ano, com certeza teve um sabor muito especial e diferente para cada uma de nós. Penso que, através da oração, passamos a ouvir a dor das famílias e de nossas congregações que tiveram membros partindo sem poderem se despedir, mas também passamos a escutar as expressões de gratidão por tantos gestos concretos de solidariedade e partilha. Nós nos sentimos felizes porque estamos também ajudando a confortar tantas vidas. É Páscoa! É Ressurreição na forma como juntas com todos os que caminham conosco, com as mãos entrelaçadas, podemos abraçar o mundo.
Ir. Ieda Maria Tomazini