A vida religiosa consagrada, motivada pelo ardor carismático e projeto de evangelização tem introduzido a vivência intercultural em sua forma e estilo de vida desde os tempos antigos. Mas, nem todos os membros têm conseguido internalizar a profundidade, a riqueza e a beleza que envolve a vivência intercultural, muitas vezes confundida com multiculturalidade ou internacionalidade.
A comunidade com vivência intercultural não se forma colocando as pessoas de diferentes culturas sob um mesmo teto. As verdadeiras comunidades interculturais devem ser conscientemente criadas, intencionalmente promovidas, cuidadosamente nutridas. A vivência intercultural exige algumas atitudes pessoais conscientes, certas estruturas comunitárias flexíveis e uma espiritualidade particular. Ambas as partes – aquele que acolhe e aquele que é acolhido – devem interagir de tal forma que toda a comunidade se enriqueça com a presença do outro. Ambas as partes devem reconhecer que a diversidade é divina, o outro é necessário para as relações comunitárias maduras. A inspiração parte do próprio Deus Uno e Trino, que sempre está numa relação mútua e dialogal entre si, e convida os membros da comunidade a construírem relações mútuas e dialogais na vivência intercultural.
No decorrer dos próximos anos estaremos conversando sobre este tema em nossas comunidades, Províncias e Regiões. Os encontros, além de serem momentos informativos querem destacar a importância de atitudes básicas e fundamentais para iniciarmos um diálogo, em comunidade, com características interculturais. Uma destas atitudes é fazer o exercício de hospedarmos o outro em nós como ele é, sem querer modificá-lo para que se assemelhe a nós, para que assuma nossos valores ou maneira de fazer história. Trata-se de entramos nesta caminhada de pés descalço para sentir o chão da outra cultura e apreciar e compartilhar o desejo de caminhar junto, sem preconceitos, sem pré julgamentos, sem a pretensão de mudar o outro. Mas, juntos aprendermos a reconhecer e nutrir as sementes do Evangelho presente em cada cultura, isto é, aprendermos uns dos outros. Outra atitude é a humildade e o respeito, pois numa vivência intercultural somos hóspedes na vida e missão do outro e também somos os hospedeiros da vida e da missão dos outros. Seria bom que nos perguntássemos: Como aprecio a diversidade cultural que existe na comunidade? Na prática da hospitalidade, de que maneira acolho cada membro de minha comunidade? O que tenho aprendido na convivência com tantas pessoas diferentes?
Ir. Ieda Maria Tomazini